( Rico Oliveira )
Eu adorava carnaval. No tempo em que ir atrás do trio era uma possibilidade real e a gente não tinha medo de levar facada no meio do povo. Até porque esse povo dançava e brincava feliz, sem a violência que cai sobre nós qual manto opressor. Pelo menos eu já curti muito, muito mesmo, sem precisar pagar preços extorsivos para a pseudo proteção das cordas dos blocos de trio. Lá pelos meus dezessete anos os blocos já eram um luxo, mas ninguém precisava deles para acompanhar a folia, já que a rua era de quem queria curtir o carnaval e não dos camarotes vendidos a peso de ouro como acontece hoje em dia. Paciência. Hoje não vou mais à rua no carnaval, mas posso dizer que aproveitei muito enquanto a violência ainda não acontecia tão vigorosamente. A única coisa que nunca consegui fazer foi virar a noite da terça para a quarta e acompanhar o clássico encontro de trios na Praça Castro Alves. Hoje em dia, até este não resiste mais. São dois ou três gatos pingados que tentam, sem sucesso, reproduzir os áureos tempos de Baby, Pepeu e Moraes Moreira. Grande pena. Mas reflexo dos tempos. O povão agora prefere ir atrás de Ivetona e sua Madeirada. Acabou-se a poesia na praça do poeta.
Ainda sobre carnaval, uma das notícias recentes aqui em Salvador foi a compra de 20 latões devidamente disfarçados sob a alcunha de celas modulares, ou ainda, unidades prisionais móveis, para "custodiar provisoriamente presos durante os festejos carnavalescos". Segundo a maravilhosa propaganda de tão brilhante idéia, os tais contêineres de doze metros de comprimento por 2,40 metros de largura e 2,40 metros de altura além de receberem 7 beliches, instalação hidráulica, água filtrada e até banquinhos e mesa para os "internos" possam ler e escrever, também dispõem de isolamento termoacústico para proteção dos efeitos provocados pelo sol (leia-se calor de cozinhar cérebro dentro desse latão). Eu não sei não, mas pela foto o espaço me parece bastante exíguo, e olhe que ângulo normalmente ajuda nessas horas... A sucursal baiana da OAB, até dezembro criticava duramente a proposta. Não mais que de repente, agora defende vigorosamente a implementação dos tais latões. Para mim, o que vai acontecer é bem simples. Ao invés dos 14 internos provisoriamente custodiados durante o carnaval, vão socar pelo menos uns cinquenta pobres-diabos ad infinitum nesse inovador modelo de celas permanentes provisórias. Com o perdão da expressão chula, posto que outra não encontro para expressar o meu sentimento a respeito, "tratamento humanitário, respeitoso e digno" my ass!!!
Ah, e antes que eu me esqueça... a quem pertence a empresa que prepara e comercializa as belezuras?
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