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segunda-feira, outubro 29, 2007

Cabeleira alucinada

(Elisabetta Ponti: Miss Butterfly)

Pois é, a cabeleira do Zezé perde para a minha, com certeza. Sou dona de uma altiva e maravilhosa juba que deixaria muito leão roxinho de inveja. Eu não sei o que aconteceu, mas meus genes de cabelo devem ter sido fabricados em duplicidade.

Eu sou daquele tipo de cliente que já senta na cadeira do salão pedindo desculpas ao cabeleireiro. E todos eles sempre fazem questão de soltar as amarras e liberar a minha floresta amazônica em todo o seu esplendor. Muitos ainda dão aquela sacudida por baixo, aparentemente para analisar a extensão do trabalho hercúleo que lhes aguarda, mas tenho pra mim que é uma forma de vingança silenciosa contra a dona do portento juboso.

- "Quanto cabelo, hein, minha filha?!"

Isso só faz atiçar ainda mais a platéia de clientes, manicures, cabeleireiros. Os olhares de comiseração não deixam dúvidas quanto ao rumo do pensamento de todos.

Eu, tadinha de mim, aceito calada os olhares e cochichos e se pudesse sumir dentro da cadeira, com certeza o faria.

E para quem está imaginando uma cabeleira a la Maria Bethânia, posso assegurar que é bem pior. Acredite. O de Bethânia ainda cai, pesado, mesmo que depois vire aquele peculiar emaranhado de fios. O meu cabelo, não. É um rebelde por natureza. Os fios já nascem revoltos, como a desafiar o quarteto pente, escova, elástico e creme, muito creme. Com muito esforço, é possível domá-los por algum tempo. Por esse motivo, e por causa do calor, normalmente uso-os presos em um coque ou trançados.

Nem preciso dizer que em matéria de produtos e soluções eu já tentei "de um tudo". A questão é que não suporto chapinhas - vai ver a rebeldia dos fios está diretamente relacionada com a personalidade da dona - e os relaxamentos têm efeito muito provisório.

Outro dia uma amiga recomendou uma cabelereira maravilhosa e barateira. Barateira era, de fato. Já maravilhosa... Posso dizer que meu cabelo realmente ficou lizerrérrimo por uns seis meses. Mas o saldo final não foi dos mais positivos. Bem aqui na frente, onde é impossível disfarçar, foi-se embora um tufo inteirinho, quebrado desde a raiz. Talvez dessa vez a química utilizada tenha sido mais forte do que eles podiam agüentar.

O resultado é que fazer o coque agora é impossível ou todos vão perceber o tufinho arrepiado e indiscreto, que a custa de muito Pilogênio (para quem não conhece, é extrato de jaborandi, ótimo para crescer cabelo), já começa a botar os fiozinhos de fora. Assim, eu me conformei em arrumá-lo meio preso, meio solto. Disfarça razoavelmente. Ainda bem que os fios em tonalidade, só perdem para as asas da graúna. Em meio à escuridão de todo o cabelo é mais difícil perceber o problema.

Eu nem vou começar a contar a luta que é lavar a minha juba. Cansa, e muito. Além do quê, como eu levo uns três a quatro dias para ganhar coragem, é preciso algumas aplicações de xampu com seus devidos enxagües para conseguir deixá-la devidamente limpa e cheirosa.

Confesso que tenho pensado seriamente na hipótese de tosar a minha cabeleira. A última vez que fiz isso foi após o término de um namoro muito pouco saudável. Cortar o cabelo naquela época significou uma retomada de vida. Foi interessante, porque eu ia ao salão a cada quinze dias e o comprimento ia encolhendo aos poucos. No final, ganhei um estilo joãozinho delicioso. Não ache graça, era delicioso, mesmo. Acho que os homens não percebem como são felizes de poderem sentir a água massageando-lhes as cabeças a cada banho. Com o passar do tempo, e o coração mais feliz, o cabelo foi crescendo naturalmente.

Cortar o cabelo hoje tem outro significado, bem mais prático. É livrar-me do trabalho de manter as madeixas sempre belas. Cabelo curtinho me faz feliz. É simples. E me toma pouco tempo. E não me deixa com calor. E, principalmente, é econômico!